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Após interferência, mais de mil ex-promotores federais pedem renúncia de secretário da Justiça dos EUA

William Barr é acusado de ter atuado para diminuir pena de amigo de Trump
Secretário do Departamento de Justiça americano, William Bar Foto: Joshua Roberts / REUTERS
Secretário do Departamento de Justiça americano, William Bar Foto: Joshua Roberts / REUTERS

WASHINGTON — Mais de 1.100 ex-promotores federais e funcionários do Departamento de Justiça dos Estados Unidos pediram, neste domingo, para que o secretário William P. Barr deixasse o cargo, após intervir para diminuir a sentença recomendada contra o estrategista republicano Roger Stone , amigo de longa data do presidente americano, Donald Trump . No abaixo assinado, eles também reivindicam que funcionários do governo relatem qualquer sinal de "comportamento antiético" no departamento para o inspetor-geral do órgão e para o Congresso.

"Cada um de nós condenamos veemente a interferência do presidente Trump e do procurador-geral Barr no trabalho da Justiça. É necessário que Barr renuncie", diz a carta, assinada por ex-promotores que vieram de diversos espectros da política.

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A porta-voz do Departamento se negou a comentar. O abaixo-assinado foi organizado pelo grupo jurídico Protect Democracy ("Proteja a democracia"), que prometeu coletar mais assinaturas para que Barr deixe o cargo.

O secretário é considerado um dos aliados mais leais de Trump e é acusado pela oposição de agir como um advogado pessoal do presidente. No início desta semana, Barr pediu para que o Departamento de Justiça reavaliasse a pena sugerida contra Stone, condenado por mentir sob juramento e por tentar bloquear o depoimento de uma testemunha que exporia suas mentiras, usando até mesmo força física.

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A sentença, que ainda não tinha sido formalmente anunciada, iria variar de sete a nove anos de prisão. Antes da interferência de Barr,  o presidente havia dito nas redes sociais que a pena proposta era "muito injusta". O caso, considerado uma grave intervenção na Justiça, fez com que quatro promotores pedissem demissão.

O Departamento de Justiça disse que o caso de Stone não foi discutido com ninguém na Casa Branca. Porém, ao parabenizar Barr pela decisão de abrandar a sentença contra o estrategista, Trump levantou dúvidas sobre influência política no órgão.

Com os ataques do presidente contra o departamento, o secretário desafiou publicamente Trump ao dizer que suas publicações estavam impossibilitando seu trabalho .

— Eu não posso fazer o meu trabalho aqui no departamento com constantes comentários que me enfraquecem — disse Barr em entrevista ao canal ABC News, na última quinta-feira.

Dias depois da entrevista, Trump afirmou no Twitter que não pediu para Barr "agir em um caso criminal". Porém, afirmou que, como presidente, ele teria " o direito legal para fazê-lo ", mas escolheu "não usar esse direito".

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O estrategista foi investigado no inquérito sobre a interferência russa nas eleições americanas de 2016 , comandado pelo promotor especial Robert Mueller .  Com 67 anos, Stone é uma eminência parda republicana: ele serviu a todos os presidentes do partido desde Richard Nixon (1969-1973). Sua vida foi contada por ele próprio no documentário “Get me Roger Stone”, de 2017.

Depois da queixa do presidente, o Departamento de Justiça mudou a recomendação: sem estipular um novo tempo de prisão, considerou o pedido anterior “excessivo”. A intervenção, que levanta questionamentos sobre a separação de Poderes nos EUA, levou quatro promotores a se desligarem do caso. Um deles, Michael Marandro, não só se afastou do processo, como pediu demissão do Departamento de Justiça.

Em maio, o Protect Democracy também reuniu assinaturas para uma carta na qual o grupo defendia que o relatório de Mueller fornecia evidências suficientes para o indiciamento do presidente Trump por obstrução de justiça, o que não se confirmou.